E-commerce pode aproveitar créditos de PIS e Cofins? O que muda com a decisão do CARF sobre a Netshoes

E-commerce pode ter crédito de PIS e Cofins? Entenda a reviravolta com a decisão do CARF sobre a Netshoes, que reconheceu gastos com marketing, publicidade e TI como insumos. Saiba como aplicar a tese da essencialidade do STJ para a recuperação de créditos.

A recuperação de créditos de PIS e Cofins sempre foi uma questão estratégica para empresas que buscam otimizar sua carga tributária. Para o setor de e-commerce, no entanto, essa possibilidade encontrava forte resistência — até agora.

O que diz a legislação?

De acordo com as Leis nº 10.637/2002 e nº 10.833/2003, o aproveitamento de créditos de PIS e Cofins está limitado às empresas que atuam com industrialização ou prestação de serviços. O comércio, incluindo lojas virtuais, não está expressamente incluído.

Essa interpretação restritiva é adotada pela Receita Federal, que historicamente nega créditos relacionados a gastos com publicidade, plataformas e marketplaces, classificando-os como meras despesas operacionais.

E o entendimento do STJ?

No Tema Repetitivo 779, o Superior Tribunal de Justiça definiu que o conceito de “insumo” deve considerar a essencialidade ou relevância do item para a atividade econômica da empresa. Ou seja, aquilo que, na ausência, compromete a qualidade, quantidade ou suficiência da atividade fim.

Esse conceito foi seguido pela Receita no Parecer Normativo COSIT nº 5/2017.

A reviravolta: decisão do CARF sobre a Netshoes

Em janeiro de 2025, o CARF reconheceu que a Netshoes, por atuar exclusivamente no meio digital, tem direito de aproveitar créditos de PIS e Cofins sobre:

  • Gastos com publicidade e marketing digital;
  • Contratação de plataformas e serviços de tecnologia da informação (TI).

A justificativa foi clara: sem essas despesas, a operação perde qualidade e suficiência — exatamente os critérios de essencialidade exigidos pela jurisprudência.

O que isso significa para o varejo digital?

Essa decisão pode representar um precedente importante para outros negócios digitais que desejam reavaliar seus custos e ampliar a recuperação de créditos.

Contudo, é essencial destacar: cada caso deve ser analisado individualmente. A empresa precisa comprovar documentalmente que seus gastos são essenciais ou relevantes para a atividade econômica. Não se trata de uma liberação automática.

Recomendações

  • Reavalie seus gastos com tecnologia e marketing sob o critério da essencialidade;
  • Verifique se sua estrutura permite justificar esses investimentos com base em documentação e realidade operacional;
  • Conte com assessoria especializada para avaliar os riscos e oportunidades com segurança jurídica.

O uso estratégico do conceito de insumo pode representar um avanço importante para empresas do comércio eletrônico — mas exige análise cautelosa e técnica.